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Beatriz Matos atualmente trabalha com UX Design – focado na experiência do usuário em apps e web – na cidade de São Paulo. Além de nos contar sua experiência após a formação, ela comenta sobre a pressão que as próprias mulheres acabam exercendo sobre si, devido à constante necessidade de reafirmação perante a figura masculina no mercado de trabalho.
Beatriz também fala a respeito do que é comumente aceito como verdade em relação às mulheres, como, por exemplo, a crença de que não são tão capacitadas quanto os homens para realizarem determinadas tarefas – e como isso pode afetar a construção da autoconfiança no trabalho. Confira cada detalhe dessa conversa:

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Você pode contar um pouco sobre como foi a sua trajetória entre a formação e a conquista do primeiro emprego, e com o que tem trabalhado hoje?

 

Eu fiz Design de produto. Dentro da UNESP, fiz parte do projeto de extensão MUDA e depois fiz um intercâmbio. Quando voltei, estava super ansiosa e desesperada para fazer alguma coisa, então comecei um estágio aqui em São Paulo, na área de inovação, e depois fui efetivada. Atualmente trabalho com UX, que é a parte de desenvolver aplicativos web focados na experiência do usuário.

 

Em termos de participação feminina no mercado, pelo que já vivenciou, você vê equilíbrio

entre gêneros?

 

Acho que na área de design de produto – apesar de ter participado só do MUDA (projeto de extensão da UNESP), mas também vendo as pessoas que trabalham na área de desenvolvimento de produto, eu sinto que é mais desigual.

 

Por exemplo, no MUDA a gente tinha que carregar madeira, e existia a questão de acharem que a mulher não consegue. E a maioria das pessoas que eu conheço que trabalham nessa área é homem, principalmente dentro do mobiliário. Mas, na área em que estou trabalhando atualmente eu não sinto essa disparidade, pelo menos não na empresa em que eu trabalho.
 

Durante nossas pesquisas, vimos que, mundialmente – embora esse número já represente um avanço – apenas 11% das líderes da indústria criativa são mulheres. O que você pensa sobre esse número?

 

Isso é bem o histórico do que a gente já conhece de as mulheres não trabalharem antigamente. Acho que é muito relacionado a isso, mesmo com a parte criativa sendo sempre mais ligada à mulher do que a área de exatas, em que o machismo é muito mais evidente.

 

Acho que existe também a crença, sobre os cargos de liderança, de que o homem é mais capaz, que ele está mais apto – até mesmo devido à possibilidade da mulher engravidar e ter que tirar a licença-maternidade, o que pode trazer um impacto para a empresa. São esses detalhes que as pessoas colocam como verdades. Não sei se na área criativa existe alguma coisa além do fator histórico.

 

Você falou agora sobre essa questão da possibilidade da mulher engravidar, e uma crítica que se faz muito é sobre essa responsabilidade atrelada à mulher com relação às cobranças sociais perante a família, da necessidade de casar e ter filhos. Olhando para a nossa geração, quais são as problemáticas que isso pode acarretar para a carreira profissional feminina?

 

Acho que ainda existe essa influência. Por exemplo, na nossa geração ainda têm muitas mulheres que dão uma “pausa” na vida profissional, quando engravidam, para cuidar do filho, e existe 0,0% de homens que fazem isso, né. Mas, para mim, mesmo quando uma mulher se entende tendo essa responsabilidade familiar, ela também tem muitas outras responsabilidades além dessa –  como esse sentimento de ter que mostrar que é capaz (profissionalmente) muito mais do que um homem teria.

 

No trabalho, ela vai fazer o dobro do que um homem faria, porque ela tem que se mostrar excelente, ela não pode ser ok. Existe muito essa pressão interna que criamos dentro de nós, não necessariamente vinda de alguém, mas sim da necessidade de sempre comprovar nossa capacidade, o que gera um desgaste físico e emocional.

 

Outro dia estava conversando com uma menina no trabalho, e alguém falou que “fulana não veio hoje porque ia levar o filho no médico”. Eu e essa amiga na hora pensamos que, provavelmente, o marido dela nunca levaria o filho no médico, é ela que sempre tem de deixar de trabalhar para levar o filho. Na minha família sempre foi a minha mãe que levava a gente no médico, que se desdobrava para cozinhar enquanto o homem não tem essa responsabilidade. Acontece até, em alguns casos, das mulheres adiarem a gestação delas, mesmo querendo ter um filho, por entender que o momento profissional delas não permite isso.

E você chegou a vivenciar algum tipo de impedimento, fragilidade ou dificuldade por ser mulher dentro da universidade ou no trabalho?

 

Dentro da universidade sim, principalmente dentro do MUDA: vindo de professores machistas fazendo piadas de que não iríamos conseguir carregar as coisas pesadas e mais nessa questão física de achar que uma mulher não consegue carregar uma madeira. Ou quando eu pegava a furadeira e me olhavam 3x mais do que se fosse um cara furando. Sentia uma falta de confiança no que eu estava fazendo.

 

Já no trabalho eu não sei dizer se senti isso de não confiarem no meu trabalho, de me pressionarem ou alguma diferença nesse sentido. As minhas líderes são mulheres – tanto enquanto eu estava no estágio, até quando fui efetivada – e isso foi muito representativo e importante para mim: por ter elas e me espelhar nelas e ver que era possível.

 

A gente percebe como é difícil essa falta de referência em alguns campos, que faz com que algumas mulheres acabem até não almejando esses lugares pela falta de referência.

 

Sim, existe esse sentimento de achar que você não pode estar ali, né.

 

Para finalizar, você poderia falar para a gente nomes de mulheres-designers que te inspiram?

 

Nossa, nunca tinha pensado sobre isso. Mas acho que a minha líder me inspira: ver ela ali, ver o que ela faz; e a minha gestora também – que não tem medo de nada – isso me dá muita fé de que eu possa um dia estar no mesmo cargo que elas.

"Acontece até, em alguns casos, das mulheres adiarem a gestação delas, mesmo querendo ter um filho, por entender que o momento profissional delas não permite isso."

2018 Projeto D.elas: Projeto de conclusão de curso - Faculdade de Artes Arquitetura e Comunicação UNESP

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